Prezados irmãos e irmãs,
Desde o mês de março de 2010, estou ao serviço do Prado de Madagascar e da Diocese de Fianarantsoa, depois de 4 anos de felicidade na Diocese de Cachoeiro de Itapemirim, quando fui enviado pelo Prado com o acordo do bispo da minha diocese de Créteil (Subúrbios de Paris). Não houve definição de período determinado e, pouco tempo depois da minha chegada à ilha de Madagascar, eu disse que estava disponível, no meu coração, por 20 anos, exceto se houvesse problemas de saúde, se o Prado de Madagascar não precisasse mais de minha presença, ou se os responsáveis do Prado tivessem outra missão a me confiar. E foi nesta perspectiva que eu me doei sem medida, em particular na aprendizagem da língua malagasy.
No dia 20 de fevereiro, Pe Michel Delannoy, responsável geral do Prado, ligou para saber se, caso não houvesse outra pessoa, eu aceitaria deixar Madagascar para me tornar responsável pelo Seminário do Prado em Limonest (Lyon, França). Ele ainda esperava que outros padres pudessem se disponibilizar para este cargo e me deixar em Madagascar, o que era o desejo dele como o meu também.
Eu respondi que eu sempre tinha dito da minha disponibilidade sem condições, e que cada vez que eu deixei uma missão, o meu coração foi transpassado, como quando deixei a paróquia de Dores do Rio Preto. Ainda hoje, guardo saudades de Dores e Guaçui, mas nunca duvidei que fosse um chamado de Deus para ir ao encontro de um povo muito pobre.
Estou sentindo muitas saudades hoje, no momento de deixar Madagascar. Verifico mais uma vez que, como padres, nós esposamos profundamente um povo, e “recebemos, já no presente, o cêntuplo de casas, irmãos, irmãs, mães, filhos e campos…” (Marcos 10, 30). Pois, não é fácil deixar os que se tornaram para mim pais, mães, irmãos, irmãs, sobretudo quando esses irmãos e irmãs estão sofrendo muito no país deles, que se tornou também o meu país.
Fico maravilhado com todos os laços de amizade que eu guardei com irmãos e irmãs encontrados nas missões precedentes, como com os que conheci no Brasil. Eu continuo rezando, nomeando os grupos de pessoas encontradas durante esses 25 anos de ministério, a cada dia no terço. Com as pessoas da paróquia de Befeta em Madagascar, se tornará mais difícil comunicar pela internet, porque eles não têm nada: nem energia, nem rede de telefone em muitos lugares. Mas os laços da oração e do coração funcionam bem em todos os lugares.
Eu espero poder continuar a visitar Madagascar animando retiros quando for chamado e estarei disponível, como continuarei em Moçambique na espera de que o Prado do Brasil envie alguém. No mês de novembro, irei pregar o retiro dos padres da Diocese de Tete na casa de retiro do Pe Emilio, jesuíta originário de Dores do Rio Preto. Depois, visitarei os padres que iniciaram uma vida de equipe à escola do Pe Chevrier nas dioceses de Beira e de Pemba onde eu preguei os retiros nos anos de 2013 e 2014.
Em Madagascar, como nas missões precedentes, particularmente a missão na Diocese de Cachoeiro, fiquei muito feliz em receber irmãos no ministério com quem partilhava a missão: em particular Pe Gervais, vigário geral da Diocese de Fianarantsoa e responsável pelo Prado de Madagascar, Pe Wilson, paróco de Befeta que me acolheram como o mesmo amor que tiveram para mim Pe Olímpio e Pe Juarez.
Eu esperava continuar em Befeta durante muitos anos assim como no serviço do Prado de Madagascar. Foi um privilégio viver no meio de um povo muito sofredor, em condições de pobreza que eu nem imaginava. Mas é um povo muito acolhedor e que tem uma força de vida e uma fé que tocaram o meu coração e me enriqueceram muito. Espero não me esquecer depressa demais de tudo o que pode ensinar uma vida simples na pobreza e no meio dos pobres.
Por outro lado, estou realmente disponível para servir na formação de “padres pobres para os pobres” segundo a expressão do Pe Chevrier que se encaixa profundamente ao desejo do Papa Francisco, ao serviço da Igreja Universal. Pois, o seminário do Prado é um seminário internacional com seminaristas e formadores originários de vários países. Ficarei feliz se alguma Diocese do Brasil enviar um seminarista que tenha desejo de se formar pela escola do Pe Chevrier neste seminário. Eu fiz a minha formação neste seminário e estou pronto a tentar partilhar o que lá recebi.
Agradeço ao meu bispo Dom Michel Santier, por continuar me disponibilizando ao serviço do Prado. Agradeço ao bispo de Fianarantsoa, Dom Fulgence Rabemahafaly, pelo acolhimento e confiança, e pela missão que ele me confiou na paróquia de Befeta.
É neste contexto que darei graças a Deus pelos 25 anos de compromisso na Associação dos Padres diocesanos do Prado (10/12/1989) e de ordenação presbiteral (17/06/2015) e conto com vocês para vos unir a mim na oração neste dia.
Mais uma vez, eu lhes digo o quanto eu recebi dos meus irmãos lusófonos encontrados em Champigny, a Portugal, no Brasil, e, agora, em Moçambique. Na alegria da Páscoa, abraço muito fraterno.
Pe Bruno Cadart