Missão com os jovens de Dores do Rio Preto (5/1/2007)

Todos os 6 meses, escrevo cartas coletivas para os meus amigos da França para servir a partilha com a Igreja onde fui enviado. Devia escrever no mês de março, mas, no regresso da missão em Dores, senti o desejo de fazer uma releitura e a partilhar.

Na última carta, falava de jovens encontrados nas visitas nas comunidades de casa em casa, que pediram o que iríamos fazer para os apoiar. Contai a reflexão a partir daí no Conselho Pastoral Paroquial, da iniciativa de encontros de representantes dos jovens das comunidades, do projeto de dois eventos preparados com eles:

  • Um encontro paroquial dos jovens de Dores no dia 25 de novembro;
  • Duas romarias na paróquia no início de janeiro.

O encontro paroquial dos jovens no dia 26 de novembro

O encontro ocorreu na sala de esportes da escola. 60 jovens vieram de 6 das 14 comunidades com 60 adultos. Nos dias que seguiram, descobri que o ônibus que a prefeitura enviou para levar os jovens não passou em duas comunidades, e que, 25 jovens esperavam sem poder participar por essa razão.

O encontro ocorreu num clima muito simples e fraterno. Eles proclamaram e encenaram a cura do paralítico por Pedro e João e todos os acontecimentos que seguiram: o ensino é que o nome de Jesus que curou este homem, o comparecimento diante dos responsáveis religiosos, a oração para anunciar a palavra de Deus com intrepidez. Como o imaginava, não foi possível eles chegar até poder “proclamar” ações concretas que eles fizeram para lutar ou, pelo menos fazer recuar, paralisias que os atingem ou atingem pessoas das suas comunidades. Mas houve uma boa partilha entre jovens e adultos no curso do qual nomeamos de novo essas paralisias evocadas tudo ao longo dos encontros de representantes: álcool, dificuldade dos jovens a continuar estudos (e não só por razões financeiras), seitas e a dificuldade a se comprometer na vida eclesial.

De novo, proclamaos uma parte dos Atos dos Apóstolos durante a celebração eucarística e fiquei tocado pela qualidade da escuta deles.

Depois, organizaram uma dinámica com perguntas sobre a Bíblia e algumas brindadeiras. Para desempatar as duas primeiras equipes, pediram os jovens ir convidar pessoa mais velha do que possível a vir se juntar ao grupo. Uma equipe foi na cidade e regressou com uma senhora de 89 anos que ria às gargalhadas.

Uma joven que se comprometeu muito na preparação deste encontro faleceu uma semana depois. A sua bicicleta não tinha freios e ela entrou na BR chegando de uma estrada de chão em declive no momento um carro chegava. Era uma das raras jovens que tinha estudado e ia iniciar como professora na escola de Dores em fevereiro.

Uma romaria que se transforma em missão

No mês de dezembro, a cada missa nas comunidades, tentava convencer jovens para vir participar duma das duas romarias “para eles viver um tempo importante para eles”. Era prevista uma romaria atravessando todas as comunidades da parte norte da paroquia com os jovens dessas comunidades da terça-feira 2 à quinta-feira 4 de janeiro, e outra para a parte sul da sexta-feira 5 até o domingo 7, acabando com a missa das 19h na matriz.

Decidir fazer estas romarias na paróquia tinha quatro objetivos:

–     dar a possibilidade de participar sem pagar nada (são as comunidades que ofereceram as refeições e o dormir), à estas comunidades de viver a partilha;

–     permitir à jovens de se juntar ao grupo enquanto já caminhava;

–     tornar visível o trabalho de evangelização dos jovens e associar as comunidades neste trabalho;

–     dar a possibilidade às comunidades de aproveitar do Evangelho anunciado pelos jovens, formar assim toda a comunidade.

Como tinha a impressão que os jovens não se interessavam na proposta duma romaria, a cada missa, depois do cântico do “enviai”, pedia aos jovens entre 14 e 25 anos de se levantar e, disse que precisavamos de operários para fazer a “missão”. Aí, senti que tocava mais.

Nunca foi possível ter uma lista de participantes. Pensava que 30 a 40 jovens iam participar de cada uma das missões. As comunidades que se comprometeram para acolher os jovens se inquietavam de não poder saber quantos viriam.

Choveu todos os dias que precederam assim como toda a noite antes do início da “missão”. Para ir ao ponto de partida do ônibus que devia levar todos os jovens da parte norte à comunidade Santa Luzia, comunidade onde iniciava a missão, debaixo do Pico da Bandeira, tive de fazer um desvio de 15 quilómetros porque uma ponte foi destruida pela enchente do rio.

As 7h, havia 4 jovens no património de Mundo Novo. Quando o ônibus chegou na comunidade seguinte, São Sebastião: ninguém. São João Batista: 1 sobre os 7 anunciados. Santo Antônio: ninguém. São Raimundo: 6 enquanto 15 até 20 eram anunciados. Em Nossa Senhora de Lourdes, fomos bater a porta de duas jovens morando na beira da estrada. Se vestiram com pressa e aceitaram vir “só para um dia”. Em Santa Luzia, foram 13 jovens que se encontraram acompanhados por Rita, professora que ajudou os jovens tudo ao longo do ano a se organizar e reunir, e por Irmã Maria do Socorro que chegou a pouco tempo em Guaçuí e vai se dedicar mais em Dores.

Oferecemos a cada jovem um livrinho onde colocamos o texto dos Atos dos Apóstolos contando a história de Paulo. Alguns trechos foram resumidos em algumas linhas: capítulos 15 (assembléia de Jerusalém), 19 (início da 3ª viagem missionária até Filipos), 22 até 28 (chegada em Jerusalém, tempo de cativo em Cesaréia, viagem para Roma).

Depois do café da manhã preparado pela comunidade, com pessoas da comunidade, iniciamos por uma hora de “estudo do Evangelho” sobre a conversão de Saulo até a fuga para Tarso. 15 minutos de silêncio para olhar como era Saulo antes, no momento, depois do encontro de Jesus na estrada de Damasco e em Damasco, para escolher uma « palavra de vida ». Uns dez adultos e jovens da comunidade participaram conosco. 4 meninas de origem africana fizeram comentários impressionnante (e isso, todo ao longo da missão).

Assim como o fará no decorrer da missão, Irmã Maria do Socorro ensinou cânticos sobre o Evangelho com gestos. Os jovens gostaram muito.

Duas jovens de Santa Luzia vindas para acolher e oferecer o café da manhã que não tinham decidido de participar, aceitaram se juntar ao grupo “só por um dia”.

Pouco depois de ter iniciado o caminho para Nossa Senhora de Lourdes, a chuva caiu de novo. Acompanhou até o fim. Felizmente, a estrada que atravessa a parte notre da paróquia foi asfaltada há alguns meses e não houve dificuldades para andar.

Chegamos em Nossa Senhora de Lourdes para o almoço oferto numa albergue que aceitou um preço barrato pagando 5 reais por pessoa. Os jovens lavaram a louça para agradecer.

Depois do almoço, no espaço do albergue, no meio dos clientes, os jovens se dividiram em três equipes para preparar a narração e a encenação dos atos. Uma equipe preparou a conversação de Saulo até a fuga para Tarso; outra, a primeira viagem de Saulo com Barnabé; a última preparou o fim da terceira viagem a partir de Corinto até a chegada a Cesaréia, com os adeus aos anciões de Éfeso. Dois jovens presentes na albergue foram empregados para desenhar o mapa dos passos de Paulo sobre um grande tecido.

Eu pensei em Antônio Chevrier, fundador do Prado que dizia com as palavras da sua epoca uma chamada tão atual para nós todos:

“É necessário instruir os ignorantes, evangelizar os pobres. É a missão do Nosso Senhor. É a missão de qualquer padre, a nossa em particular: é a nossa carga. Ir aos pobres, falar do reino de Deus aos operários, aos humildes, aos pequeninos, aos abandonados, a todos os que sofrem. Ô! Porque não nos for permitido de ir, tal como o Nosso Senhor, como os apóstolos, “nos locais públicos e nas casas” (At 20,20), nas praças, nas fábricas, nas famílias, levar a fé, pregar o Evangelho, catequizar, dar a conhecer Nosso Senhor” (escritos espirituais p. 62)

Tinha pedido às irmãs sacramentinas de Bergama que atuam em Guaçuí que uma delas nos acompanhasse para os jovens poderem descobrir este dom possível da sua vida. Irmã Maria do Socorro disse-me que uma menina lhe falou duma novela onde há uma irmã muito brava e que ela não podia pensar que havia irmãs que podiam ser próximas das pessoas. Enquanto os brasileiros utilizam muito os títulos (Juarez me chama “Pe Bruno”), um jovem se encontrou assustado e com vergonha de me ter chamado “Bruno”. Os jovens não têm ocasião de ver um padre fora das celebrações ou para uma palestra. Eu pensava, tanto para a irmã, como para a Dona Rita, como para mim, e como para todo catequista nesta outra frase de Antônio Chevrier a adaptar para cada um:

“Irei no meio delas, viverei da vida delas; essas crianças verão o que é o Padre e darei-lhes a fé” (escritos espirituais p. 61)

Às 16h, fomos para a comunidade São Raimundo, 2 quilómetros mais adiante. É o património maior da paróquia depois de Dores. Os jovens foram em pequeninos grupos visitar as famílias, convidar para celebração, benzer as casas. A missa foi um pouco transformada: proclamação dos Atos dos Apóstolos durante 40 minutos com um pouco de encenação; depois, um tempo para os jovens como pessoas da comunidade reagir e dizer o que tocou o coração deles nesta escuta da história de São Paulo; depois liturgia eucarística. Dentre outras expressões:

–     “O que me toca, é a resposta de Ananias: “Aqui estou, Senhor…” e ele aceita de acolher Saulo que perseguia os cristãos.”

–     “O que me toca, são todas as dificuldades encontradas por Paulo. Mas nada o faz parar. Sempre recomece a anunciar.”

–     “Utiliza todas as suas forças para anunciar Jesus”

Fiz a ligação com o tema escolhido no C.P.P. para o ano 2007: “Jesus os enviou em missão com o Espírito Santo”. Convido os catequistas, as crianças inscritas na catequese, os seus pais, a não esperar os outros se inscrever, mas a ir visitar todas as famílias que têm crianças na idade de vir à catequese, de fundar equipes onde as pessoas moram distantes demais da Igreja. Fazer este chamado no momento em que os jovens vivem esta dinámica é mais expressivo.

Às 21h, depois da missa, 1 menino e 3 meninas pedem de seguir o grupo no dia seguinte. As meninas e me pedem de ir convencer os pais que não queriam deixá-las. Numa das casas, o pai não estava presente: “é na casa do vizinho”. Entrei na casa. Havia uma senhora na sombra que parecia chorar mas sem que tive tempo de realizar. O pai aceitou deixar a sua filha participar. Perguntei o que acontecia. O pai me fez entrar no quarto onde o seu irmão estava morrendo. Foi capaz abrir os olhos e aceitar o sacramento dos enfermos. Morreu a meia-noite. Jovens da missão que conhecia este homem participaram do velorio.

Os jovens dormiram nas casas das pessoas da comunidade. Para a maioria (todos?), era a primeira vez que dormiam fora de casa sem os pais deles.

Na quarta-feira de manhã, às 7h, oração na igreja com algumas pessoas da comunidade. Lemos o início da narração da segunda viagem missionária de Paulo (Tessalônica, Beréia, Atenas, Corinto nos Atos dos Apóstolos 17 até 18). Cada um exprime a sua « palavra de vida ». O coordenador da comunidade faz a relação entre o que ele descobre de Paulo e a sua própria missão.

No fim, um jovem pergunta se for possível o grupo ir rezar na casa onde morreu o homem. A casa já era cheia de gente. Com os 19 jovens, animamos um tempo de oração.

Passando em frente duma outra casa, uma outra jovem se agregou ao grupo. Ela não queria vir enquanto sua mãe tentava de convencê-la participar, mas, vendo o grupo passar, ela correu se vestir e foi “para um dia”, com a promessa eu a levar em casa a noite. Os de ontem que vieram “só para um dia” eram todos presentes e foi sempre assim.

“As pessoas não vêm, é preciso ir buscá-las” (Antônio Chevrier, « Verdadeiro Discípulo » p. 450)

Depois de 6 quilómetros com a chuva, chegamos na comunidade Santo Antônio. São 9h. Propomos um tempo de partilha introduzido assim:

–     “Ouvimos a história do encontro de Paulo com Jesus, e lhes propomos de tentar contar uns aos outros a história do nosso próprio encontro com Jesus. Como temos a fé: foi os nossos pais, avôs? Outra gente? Houve momentos mais fortes: comunhão, crisma, outros? O que gostamos de Jesus, quais palavras dele? As dúvidas que temos?”

A partilha em três equipes foi impressionante e propomos fazer uma plenária onde um ou dois por grupos aceitarem contar para todos. 100 % falaram da doença alcoólica na família como um sofrimento forte.

Metade dos jovens testemunharam que não tinham muito desejo de vir, mas que foram os seus pais, irmãos, comprometidos na vida da comunidade, que os convenceram de vir, para alguns, quaso os forçaram. Outra metade dos jovens disseram vir de famílias que não praticam ou, mesmo, que são hostis na fé, ou são de outras religiões. Alguns dos testemunhos que mais me tocaram:

–     “Nunca ia a igreja. Há pouco tempo, Luemi, meu colega, me convidou e fui. Ouvi o Pe Bruno convidar para a romaria, mas não pensei em vir. Luemi me convidou ontém e aqui estou, bem feliz.” (Roberto)

–     “O meu pai bebe muito e não pratica. É sempre uma guerra para mim poder ir para a Igreja. A minha mãe nunca foi e não sei onde está. Quando tinha um mês, me jogou num formigueiro. Vivo com a minha avó e o meu pai. Não sei porque fui batizada. Acho que foi o padrinho que pediu. Uma colega de escola me convidou para a catequese. Gostei. Fiz a comunhão, a crisma, aceitei ser catequista. No meu Círculo Bíblico, o coordenador saiu. Como tinha formação, aceitei pegar. Há pouco tempo, fui eleita coordenadora do grupo de jovens e aceitei. Não foi fácil vir. O meu pai não queria mas acabou por aceitar.” (Maria-Aparecida)

–     “Tinha uma vida muito fora do Evangelho, com álcool e outras problemas graves. A minha mãe me obrigou a vir a missa. A comunidade estava em crisa e o coordenador entregou o seu cargo. O Pe Mucio pediu que alguém aceitasse pegar o cargo. Ninguém falava. Várias vezes, ele disse: “Vocês querem fechar a comunidade?” A minha mãe me falava, me questionava: “Você não se propõe?” Por fim, aceitei, mas disse que não sabia e que não poderei sem a ajuda de todos. Para mim, foi ocasião de mudar de vida, de voltar ao Evangelho. Hoje estou aqui enquanto hesitei a vir. Agora, estou muito feliz por estar aqui.” (Beto)

Proponho a Rita que conduz o carro que leva todo o material e a bagagem de contar a sua história de fé, o que a provocou a se dedicar ao serviço dos jovens: um caminho forte, com a doença alcoólica do seu primeiro marido que faleceu depois de 11 anos, a adoção de 3 filhos além dos seus 3 filhos próprios.

Provoco a irmã a contar a sua história, como ela foi sozinha para a Igreja muito distante da sua casa com idade de 5 anos, como ela criou um grupo de crianças da sua idade e mais jovens aos quais ela dava aulas de catequese enquanto tinha 10 anos, sem ninguém saber. Ensinava o que ela tinha recebido no seu próprio grupo de catequese.

Disse algumas palavras do meu próprio itinerário, em particular como a Igreja me pediu de esperar quando tinha 17 anos para entrar no seminário (no grupo, havia um jovem a quem foi pedido esperar no estagio vocacional antes de entrar), como também, quando tinha a idade deles, alguns elementos me ajudaram para namorar a luz do Evangelho.

Uma mãe que veio para abrir a igreja participava conosco. Sem a avisar antes, lhe pedi se ela aceitasse contar também a sua história de fé. Falou da sua família, todos crentes, da perseguição por eles, da oposição do seu marido durante anos, da força dela para seguir o caminho de Jesus e disse a sua alegria o seu marido agora participar e é tesoureiro da comunidade.

Mateus, 12 anos, filho desta Senhora, estava também presente. Havia uns meses que ele gostava de nos ajudar quando havia missas na comunidade. Tinha sentido uma força interior desta criança e lhe pedi se aceitaria falar. Com uma voz forte e uma autoridade impressionante na presença dum grupo de jovens mais velhos, falou da sua fé, da importância para ele participar enquanto os seus colegas não participavam.

Depois do almoço oferecido pela comunidade numa casa particular, nós enviamos os jovens nas tres comunidades vizinhas: Santo Antônio, São João Batista, São Sebastião.

Em cada casa, eles falavam da vida da família, das crianças, das alegrias e tristezas. Faziam a leitura da conversão de Saulo e propunham às pessoas de dizer a « palavra de vida », partilhando a deles; rezavam o Pai Nosso e faziam a bênção da casa antes de convidar as pessoas à vir à missa das 19h em São Sebastião.  Foram bem acolhidos também nas casas dos crentes.

Um grupo foi enviado para visitar dez famílias que se desligaram da comunidade São João Batista depois duma briga com armas. Pedi ao Sidney, membro da comunidade São João Batista, da família que estas dez famílias não aceitam mais, de guiar uma equipe nessas famílias que não participam mais desde 6 meses.

Quanto a mim, fui visitar uma das famílias para tentar convencer o João a vir à missa. João é o pai do Adilson, ministro da palavra que é o único desta família a aceitar vir a missa. O João estava na roça, “pertinho”. Pedi ao filho de 10 anos de me conduzir para o seu pai. Foi 45 minutos de subida num trilho com forte declive e cheio de lama e com forte chuva. No caminho, e em particular no meio dum campo de milho que estavamos atravessando, encontrei várias pessoas dessas famílias que convidei.

Quando o João me viu chegar lá, na montanha, para convidá-lo, chorou e prometeu que participaria da missa à noite. E aceitou de fazer, juntos de nossas mãos dadas, uma foto. Já o havia algumas vezes para ajudá-lo a regressar. Ele deixou o seu trabalho e insistiu para me acompanhar e me oferecer um café na casa. Depois, fui para a igreja. Era 17h.

Um momento depois, o Adilson, filho do João, ministro da palavra, foi me chamar. O seu pai estava muito preocupado. Foi ver os seus irmãos para os chamar a vir com ele, e eles o amaeçaram de não mais lhe falar se ele fosse à igreja. Fui de novo para a casa do João. Insisti para ele não vir à missa por causa da promessa feita, mesmo com a foto. Mas tentei de ajudá-lo a refletir a partir do Evangelho e a ter coragem de vir. Ninguém desta família foi a missa a noite. A pequenina igreja, apesar que as três comunidades vizinhas foram convidadas, que os jovens visitaram muitas casas, que havia 19 jovens presentes, não se encheu.

Na manhã seguinte, terceiro dia da missão, 4 jovens dessa comunidade se juntaram. Agora são 24 jovens que vivem a missão. Iniciamos com uma hora de “estudo do Evangelho” sobre os adeus de Paulo aos anciões de Éfeso e a chegada em Cesaréia. Cada um disse a « palavra de vida ». Entre outras, estas exprimidas com força pelos jovens:

–     “Agora eu vou para Jerusalém, obedecendo ao Espírito Santo, sem saber o que vai me acontecer lá. Sei somente que em todas as cidades o Espírito Santo tem me avisado que prisões e sofrimentos estão me esperando. Mas eu não dou valor à minha própria vida. O importante é que eu complete a minha missão e termine o trabalho que o Senhor Jesus me deu para fazer. E a missão é esta: Anunciar a boa notícia da graça de Deus.” (Atos 20,22-24)

–     “Pelo contrário, vocês sabem que eu trabalhei com as minhas próprias mãos e consegui tudo o que eu e os meus companheiros de trabalho precisávamos.” (Atos 20,34)

Exprimo algumas palavras sobre esta expressão de Paulo que não dá valor à sua própria vida e chamá-los a não se enganar sobre a significação dessas palavras. A estes jovens cuja vida não é respeitada, falo da vida afetiva, da dimensão sagrada, preciosa, de cada uma das nossas vidas. Digo o assusto em ver tantas meninas de 13 anos namorar com pessoas de 20 a 30 anos. Evoco situações de inceste.

No caminho, 2 outros jovens se juntam ao grupo. Está chovendo sem parar todo ao longo dos 12 quilómetros de estrada para Mundo Novo. A paisagem com o abismo e várias cachoeiras é bellíssima.

Chegamos às 11h na escola de Mundo Novo onde a comunidade nos oferece o almoço. È o terceiro património da paróquia com 80 pessoas que trabalham na serraria. Neste património que fica pequenino, há 8 igrejas diferentes: ctlca, adventista, duas igrejas batistas concurrentes, Assembléia de Deus, pentecotais, Igreja Universal, espirites.

5 minutos depois da nossa chegada, Luemi volta com 6 jovens do lugar que vem guiar o grupo para a missão e vão participar de toda a reflexão que segue. Luemi veio “obrigado” pela sua mãe e sua irmã. Foi ele que convidou o Roberto. Na escola, a Rita diz que os professores o consideram como incapaz e fechado. No primeiro dia da missão ficou muito timido. Agora, são 32 jovens que participam.

Provocamos uma reflexão por comunidades para elaborar projetos para o ano que vem. A prefeitura nos contatou para avisar que não será possível viver a segunda missão na parte sul da paróquia por causa da chuva e da impossibilidade do ônibus passar nas estradas de chão. Confiamos aos jovens a nossa preocupação: como animar de novo esses jovens?

Na plenária, todos pediram novas missões e propuseram ir fazer missões nas comunidades que não foram visitadas. Concordaram com a idéia dum encontro paroquial em Dores no fim do ano com missão na cidade no sábado que precede o dia do encontro. Vamos de novo organizar encontros de representantes dos jovens para preparar todos estes acontecimentos. Vários exprimiram a intenção deles de participar da escola de teologia bíblica que vamos iniciar em Dores e em Pedra Menina. Os provoquei a chamar pessoas illetradas a participar desta escola, fazendo equipe com eles.

Depois, propomos meia hora de silêncio para escrever pessoalmente uma “carta a Jesus”, lhe dizer o que os tocou na missão, o que eles gostam de Jesus, o que eles querem viver depois da missão. Foi anunciado que seria possível alguns ler no momento de oração no grupo a sua carta, mas sem obrigação para ninguém.

Vários vieram dar a carta por a lé. Uma filha exprime relações sexuais complicadas com adulto e me dá a ler. Lhe peço de não mostrar a ninguém e, depois, avisei que era possível encontrar a coordenadora da comunidade (que participava conosco), ou a irmã, ou o padre, se queriamos falar de coisa pessoal ao fim desta missão, ou se queriamos receber o sacramento da Reconciliação.

4 meninas vieram e partilharam situações de maus tratamentos impressionantes. Tentei de ajudar, mas como dizer uma palavra nestas situações? Descobri que os que vieram participar desta missão foram, com algumas exceções os mais pobres, mas também aqueles que tinham uma força impressionante para acolher a palavra de Deus, a ler em relação com a sua vida.

Às 14h, Luémi organiza 8 equipes para visitar todas as casas do património. Às 18h, é a sua equipe que regressa, bem depois dos outros. Ele tem o rosto iluminado. Foi benzer a casa da sua família e dos vizinhos, a 3 quilómetros do património.

Na Igreja, a coordenadora me pede se for possível preparar a primeira comunhão do Isaac, deficiente mental que participa sempre das celebrações. Tento lhe falar que ia fazer a sua comunhão daqui umas semanas, que ia prepará-lo… Não tinha noção de tempo, sempre participava. Finalmente decidimos celebrar durante esta missa. Depois de ter recebido Jesus com muita atenção, correu e foi abraçar com muita força e alegria a coordenadora.

Há momentos, quando vejo esses jovens se dar totalmente na missão, escutando Luémi tomar a palavra com força durante a missa para chamar outros jovens a participar do grupo de jovens que não se reunia mais, quando vejo Isaac receber Cristo com tanta alegria, que participo desta comunidade unida, participativa, que era quase a explodir antes da eleição umas semanas atrás dessa nova coordenadora, onde essas palavras de Jesus tomam um sabor muito forte:

“Naquele momento, pelo poder do Espírito Santo, Jesus ficou muito alegre e disse: – Ó Pai, Senhor do céu e da terra, eu te agradeço porque tens mostrado às pessoas sem instrução aquilo que escondeste dos sábios e dos instruídos. Sim, ó Pai, tu tiveste prazer em fazer isso.” (Lucas 10,21)

Bruno Cadart,
Dores, no 5 de janeiro de 2007

 

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