Prezados irmãos e irmãs,
Gostaria de poder escrever com entusiasmo : “Cristo ressuscitou, Aleluia!”…
Mas a alegria da Páscoa manifesta-se primeiro na discreção de um túmulo vazio, na dificuldade dos apóstolos em reconhecer Cristo, nas perseguições que chegam logo, no mundo complexo onde se encontra este mistério de morte e ressurreição tão presente nos acontecimentos falados pelos discípulos de Emaus e nos acontecimentos dos últimos meses no Japão assim como no Mundo Arabo e em outros lugares.
Em Madagascar? As cartas coletivas de Pentecosta que relata a missão em Mahazoarivo ou aquela do fim de novembro que relata a chegada na paróquia rural de Befeta, ficam atuais e dão para entender o que vivo a cada dia, as alegrias e as dificuldades também.
Há uns dias, enviei carta aos colegas da equipa Prado por Internet, para partilhar as dificuldades do país e as que posso encontrar mais pessoalmente. Se tornou uma narração das dez ferridas do Egito no Livro do Êxodo. Em francês, decidi não colocar por escrito para não correr o risco de ferrir os meus amigos malagasienses que entendem o francês e porque não dá para entender a alegria nos encontros simples do dia a dia. Por isso, deixo os que querem ver nos sítios de notícias de Madagascar como é a situação.
Minha vida fica um combate para conseguir a falar e entender. Já estou feliz em conseguir a me expressar melhor do que esperava, mas conciente que será preciso ainda muito tempo para poder compreender o que se diz, comunicar o que gostaria de dizer. Aceito esta pobreza mas sofro em não poder ajudar melhor o pároco Wilson e tenho impressão que está sofrendo mais do que queria disso. Mas dá para realizar a missão confiada de apoiar os padres de Madagascar e primeiro a Associação dos Padres do Prado.
Com esta pobreza da língua, convidando os participantes a ler a Palavra de Deus e a partilhar as luzes e palavras de vida encontradas por eles sem poder compreender tudo o que eles dizem, animei vários retiros: retiro do colégio católico de Ambohimahasoa (cidade vizinha da paróquia), retiro dos seminaristas da diocese, dos padres da diocese de Farafangana (200 quilômetros de Fianarantsoa, mas 12h da viagem, 1h20 para os últimos 26 quilômetros, por causa do estado da “estrada”), dos professores das escolas católicas de Ambohimahasoa, tantos encontros onde fiquei feliz e que foram ocasão de rezar.
Como já lhes escrevi, tive desastre de bicicleta forte no 6 de fevereiro, mas graça ao capacete e à Providência, estou recuperando bem. Ainda tenho dores no pescoço e nas costas, mas está melhorando e andei de bicicleta logo depois, porque é o meio que tenho para andar na paróquia e ir da paróquia para Ambohimahasoa, 34 quilômetros de estrada de chão péssima da minha paróquia, cidade onde encontro “táxi brousse”, van onde colocam muitas pessoas, até 11 adultos para o segundo banco feito por 3 pessoas.
A alegria maior desde que cheguei aqui, é em ver a equipe Prado que não se encontrava antes fazê-lo regularmente e em ver a alegria dos padres doentes do álcool que pediram ajuda para fundar uma equipe de “padres zero álcool”. Aqui, esta doença é geralizada. Domingo da manhã, dei o sacramento dos enfermos à uma mãe com 30 anos e 7 filhos em coma por causa do álcool. Na segunda-feira à tarde, ainda estava no coma. Um padre contou 200 pessoas bêbadas de maneira visível, sem contar as outras, em 2 quilômetros de estrada no dia da feira. Os padres celebraram 7 meses de abstinência. Esperamos convencer dois outros jovens padres, ordenados neste ano, que se encontram em grandes dificuldades por causa do álcool se juntar a nós.
O mais difícil para mim, é a complexidade para entender o que sintam e pensam os malagasienses, a complexidade da relação com eles, misturada de acolhimento muito fraterno e de ferridas fortas em relação com a colonização. Houve guerra de “pacificação” pelos francese nos anos 1895-1913, e, sobretudo, os “acontecimentos de 1947” para impedir um movimento de independência onde os franceses mataram entre 30 000 e 100 000 malagasienses enquanto havia apenas 4,5 milhões de moradores na Ilha. Isso fica muito vivo no coração dos malagasienses, sem falar do sofrimento deles em ver o país afundar no nível econômico, político e numa violência impressionante que eles não podem atribuir só ás feridas da colonização. Sofro nesta relação muito complexa com a gente, em particular com o meu paróco. Quando penso que uma relação de confiança conseguiu em nascer, me dou conta que é mais complexo.
É escola espiritual e medito muito varios atitudes de Cristo no jeito dele de amar os homens. Um padre francês aqui desde de 30 anos me disse: “Aqui, apreendemos a humildade e a paciência”. Oxala que apreender de verdade.
Por fim, lhes partilho trecho de estudo do Evangelho do último encontro com a equipe do Prado daqui com o Evangelho do domingo antes dos Ramos, Evangelho de Jesus com Lazaro que me ajudou bem em entrar nesta festa da Páscoa. Fiquei tocado:
– pelo jeito muito humano de Cristo de amar Maria, conhecida como pecadora pública, seu irmão Lazaro e sua irmã Marta;
– os choros de Jesus em frente dum dor tão forte;
– o fato ele não ter resolvido o problema de Lazaro: reanimou, mas morreu de novo e os fariseus queriam mata-lo depois (Jn 12,10).
As reações de Jesus revelam um jeito de ser Deus bem diferente do que podemos imaginar, um jeito muito humano. No mesmo tempo, se vê que ele se deixa conduzir pela luz do Pai: vai para Jerusalem enquanto os chefes religiosos querem matá-lo, não vai logo curar Lazaro. Para ele, e jà o dizia nos outros evangelhos da Quaresma, o da Samarítana e o do cego de nascimento, o cansaço, as divisões entre os homens, a doença e a morte, em fim todas as dificuldades, para aquelas ele não dá explicação, não são ocasões para desesperar ou desistir mas devem “servir para a glória de Deus”, e devem se tornar em lugar para revelar o amor do Pai.
Neste Evangelho, guardo mais esta palavra que Marta dirija à sua irmã Maria, que foi buscar à casa:
– “O Mestre está aqui, ele te chama”… neste mundo caraterizado pela morte e por muitas dificuldades, tão omni-presentes aqui, em Madagascar.
E também esta palavra de Jesus:
– “Tirai a pedra…” Tirai o peso que fecha o homem na morte, faça-se próximos dos que sofrem, e penso nos homens que oferecem a vida deles na central nuclear no Japão para salvar os outros, ou nas pessoas que lutam contra a opressão nos países da África e da Arabia.
E este grito de Jesus:
– “Lazara, sai”, sai do túmulo, de tudo o que é morte em ti!
– “Tira os laços” (não tenho Bíblia em português comigo)… deixa-te libertar, compromete-te numa relação que liberta, mas não se pode fazer sem entrar no caminho de Cristo, daquele que se abaixou e aceitou a impotência, fazendo-se próximo, dando-se ate morrer por nós, sempre voltado pelo Pai na confiança que ele responderá enquanto, num ponto de visto humano, não é fácil crer que Lazara voltará para a vida.
Podem ter certeza que não me esqueço de todos vocês que encontrei no Brazil em particular nas paróquias de Dores e Guaçui. Conto com as suas orações também. Estou sempre feliz em receber noticias de uns e outros. Sim, Cristo ressucitou neste mundo que ama e que nos confia.
Pe Bruno