Missões com os jovens em Befeta (Agosto de 2012)

Prezados irmão, prezadas irmãs,

Acharão a seguir a tradução de uma narração de duas missões que fiz no mês de agosto e que redigi para o Prado porque lançamos um chamado aos Padres do Prado de Madagascar para eles redigirem narrações sobre o tema: “Anunciar aos pobres a riqueza de Jesus Cristo”, isso para preparar a Assembleia Geral International dos Padres do Prado no mês de julho de 2013. São muitas narrações muito interessantes no site do Prado de Madagascar (acolhido no meu site pessoal) e é pena a maioria dentre vocês não puderem entender o francês.

Acharão a seguir outras notícias. Dará para vocês saberem um pouco o que faz a minha vida aqui.

Não espero a correção dos erros de língua para enviar para a carta chegar antes da festa de Nossa Senhora das Dores e porque vou para a roça sem internet nem telefono nem energia durante uns dias.

“Anunciar aos pobres a riqueza de Jesus Cristo”

1. Gênese e objetivos duma initiativa

Chegando no roça em Madagascar, fiquei maravilhado pela fé das pessoas e a força delas para percorrer quilômetros para vir celebrar, mas sofri em ver que a nossa ação evangelizadora se limitava muitas vezes em organizar, “fazer culto”, recolher o “dízimo”, organizar retiros onde as pessoas ficavam passivas e deviam escutar durante horas sem ser ator e sem que o Evanjelho seja no centro, e quando era muitas vezes totalmente ausente das palestres.

Sofro também quando organizamos exames de catequesa onde o mais pobre, aquele que não tem apoio na sua família, conhece o fracasso e onde a fé està apresentada como um conjunto de noções e orações para ser recitadas, sem contestar a importância de uma “bagagem” que deve ser transmetida.

Chegando do Brasil onde “todas” (com certeza nem todas… mas muitas) famílias, mesmo as mais pobres e iletradas têm a Bíblia, fiquei assustado em ver que quase ninguém tinha Bíblia ou Novo Testamento na casa.

Por isso, chamei as pessoas a comprar o Novo Testamento e o vendi 3 000 Ariary quando o preço real está 7 000 Ariary. Com os jovens do Centro de Promoção Rural d’Ikalalao (um dos 4 municípios rurais da nossa paróquia) e com os responsáveis do F.E.T. (Movimento Eocarístico das Crianças e dos Jovens), vendi o Novo Testamento 1 000 Ariary a condição eles se comprometerem em fazer um “Caderno de Palavras de Vida” (fornecido gratuitamente), quer dizer de ler à Palavra de Deus a cada dia, de escrever o dia, a referência do Evangelho meditado, assim como o versículo escolhido como “Palavra da vida” pelo dia que toca o coração deles.

Também, com o apoio entusiaste de Pe Wilson, meu pároco, iniciei encenações do Evangelho em todos os retiros (comunhão, crisma) ou encontros de jovens e crianças e chamamos os jovens para preparar encenação em cada missa nas comunidades. Assim, no “Congresso do F.E.T do regional” que junto 2 000 crianças durante 4 dias, dividi as crianças em 25 grupos cada um dividido em 4 equipas. Assim, foram 100 equipas que prepararam uma encenação seja do Evangelho de Bartimeu, seja de Zaqueu, seja da multiplicação dos pães e dos peixes no Evangelho de João, seja dos discípulos de Emaus. Depois, por grupos de 4 equipas, apresentaram as encenações, partilharam as palavras de vida e as luzes para a vida delas. A tarde 4 equipas encenaram de novo durante a missa a frente das 2 000 crianças aqui reunidas nesta vasta igreja, e ajudei-las em achar as luzes.

Pe Chevrier que fundo o Prado dizia que “conhecer Cristo é tudo” e foi criativo para estudar de maneira contemplativa Cristo e o dar a contemplar, provocar jovens da “Perseverência” em encenar a Paixão de Nosso Senhor. Chamava de “Perseverência” os grupos de jovens que ficaram em relação com ele após os 6 meses onde moraram no Prado para apreender a ler, escrever, contar e preparar a comunhão.

Quando se faz “estudo do Evangelho” sobre tudo o que esta escrito em relação com a “Palavra de Deus”, a “Boa Nova”, no Novo Testamento, se vê que a “Palavra de Deus” não é só um objeto para ser transmetido, mas é o sujeito, o ator mesmo da transmissão. Estou convencido que temos de ajudar as pessoas a “comer a Palavra” e servir depois tudo o que provocará no coração da gente. Estou convencido que a urgência esteja maior ainda neste momento onde as seitas estão chegando em Madagscar e atacam os católicos dizendo “que os padres proíbem aos leigos de possuir a Bíblia para eles não perceberem que fazem idolatria” quando rezam com Maria. A ausência de raízes fortes na Palavra de Deus torna as pessoas mais vulneráveis às seitas.

Quando olho para o povo malagasy e vejo todas as feridas no coração da gente que se manifesta por exemplo no fato que robam mesmo as tábuas das pontes e que não podem mais passar depois, ou que constatamos que as verbas que chegam da fora são desviadas e fazem as pessoas esperar tudo dos outros e não levantar-se, em relação também como o que vivi no Brasil, estou convencido que o Evangelho colocado nas mãos dos pobres pode tocar o coração da gente e ajuda-la em se levantar e se libertar.

Diria exatamente a mesma coisa na França onde as feridas no coração da gente estão outras, mas onde se vê a mesma urgência em ajudar as pessoas para encontrar Cristo no Evangelho.

As partilhas sobre a cura do paralítico da Bela Porta (At 3 e 4) ou sobre as consequências da mentira de Anania e Saphira (At 5) fazendo a ligação forte com a nossa vida me confirmou ainda mais neste caminho.

Não se pode subestimar o impato deste trabalho para chamar a gente a ler o Evanjelho, encena-lo, fazer caderno de Palavras de Vida, para ajudar eles a crescer na leitura, na escritura, na reflexão, na expressão, na organização, na ação na vida concreta. Isso tem muito a ver com a dinâmica educativa de Paulo Freira no Brasil que deu muitos frutos e que falta muito aqui em Madagascar onde a educação està pobrezinha, formação de papagaios ou jeito de empanturrar gansos.

Por outro lado, entendemos muitas vezes catequistas, padres, que se lamantam porque, uma vez que foi concluída a Primeira Comunhão ou a Crisma, não se vê mais as pessoas na comunidade, por isso, me perguntei como ajudar as pessoas a passar de uma espera passiva da gente vir à comunidade para uma ação para a Igreja ir à gente. No Evangelho, não vemos Cristo esperar a gente chegar, mesmo se, ás vezes, tem de fugir da multidão, mas vemos Cristo “sair”, “ir para às pessoas”.

Vendo o fato que as equipas do “F.E.T.” (Movimento Eocarístico das Crianças e dos Jovens” em reunir-se, a ausência de propostas para elas se reunirem, agirem, lancei as “Encenações do Evangelho” nas orações das comunidades e já dinamizou tantos os jovens como as comunidades. Mas como chamar para viver o “ir para a gente”?

Com o apoio do Pe Wilson Rakotonirina, pároco de Befeta, enquanto ele foi viver uma experiência na França durante 2 meses, na profunda comunhão de oração com ele que associei nas missões em todos os encontros ou missas, convidei os jovens para duas missões no mês de agosto, período que apresentava duas vantagens:

–     não há outra atividade pastoral que pode entrar em concurrência neste período;

–     os jovens que estudam na cidade durante o ano estão presentes porque aqui são as ferias.

Convidei os “sessionistas” do Centro de Promoção Rural d’Ikalalao para uma missão no município rural d’Ikalalao (15 para o 19 de agosto) e os responsáveis do F.E.T. para uma missão no município de Befeta (22 para o 26 de agosto). Depois convidamos todos os jovens que podiam ser interessados, os catequistas “an-sitrapo” (benévolos, porque aqui, há catequistas que recebem uma remuneração o que não está muito bom no meu ponto de vista), os catequistas titulares e os professores do ensino católico (há escolas católicas rurais em muitas das comunidades).

Convidei também os jovens qui iam participar às “Jornadas Mondiais da Juventude” que iam acontecer em Diego (norte da Ilha), encontro dos jovens de Madagascar à imagem das J.M.J. que ocorrem todos os 3 anos ao nível da Ilha. Achava que seria preparação e formação para eles.

Às vezes estou preocupado em ver que se multiplicam os grandes encontros, mas não temos mais pedagogia no dia a dia para acompanhar os jovens e formar eles como discípulo e missionário com pequeninas equipas com o faziam movimentos como os da Ação Católica que proponha Encontros mas como trabalho antecipado com “Caderno de militante”, “Carta de relação”, trabalho de “inquérito”, ação, encontro pessoal e nas equipas com Cristo no Evangelho, acompanhamento pessoal dos responsáveis, celebrando tudo o trabalho do dia a dia nos grandes encontros.

2. O esquema tipo da missão

  • Quarta-feira a fim da tarde:
  • Chegada no Centro (Ikalalao ou Befeta) com o arroz e o feijão trazido por cada um pelas refeições.
  • Quinta-feira da manhã:
  • Preparação por equipas da encenação do capítulos 1 para o 9 dos Atos dos Apóstolos. Guardamos o texto, cortando alguns trechos (a escolha de Matias, trechos das homelias de Pedro ou Estevão), colocando o texto em estilo direto nos diálogos e substituindo os nomes atuais dos países na narração do Pentecoste para os jovens entenderem.
  • No fim da manhã, cada equipe apresentou o trabalho dela para melhorar ou corrigir o que não foi entendido.
  • Quinta-feira a tarde:
  • Missa com liturgia da Palavra constituída com a encenação dos Atos dos Apóstolos capítulo 1 para o 9. Após a encenação de cada equipa, dialogava com os jovens: palavras de vida? Luzes para a sua vida e para a missão? Entre as encenações, cantamos. Escolhi leitura muito longa para ajudar os jovens num conhecimento forte da fundação da Igreja e eles perceberem a força do Espírito Santo no coração dos apóstolos, homens “simples e sem instrução”, sem “ouro nem prato”, e eles verem também o lugar central de Pedro assim também como de Maria, oferecer assim toda uma catequese.
  • Houve assim 6 equipas que encenaram:
  • Ascenção e Pentecote assim como a descrição da comunidade ideal (At 1 e 2)
  • A cura do paralítico, o discurso de Pedro, a comparução diante do Sanedrino, a oração na comunidade (At 3 e 4)
  • Anania e Saphira e a mentira que mata, a ação dos apóstolos, nova arestação e libertação milagrosa, comparução diante do Sanedrino e palavra corajosa de Gamaliel (At 5)
  • A instituição dos Diáconos, o testemunho e o martírio de Estêvão (At 6 e 7)
  • A missão de Filipo na Samaria e com o Etiopo (At 8)
  • A conversão de Saolo (At 9, 1-30)
  • A missa demorou 2h45 mas aqui, não é problema. Jà vi missa que demorou 6 horas com crismação de 800 jovens. As partilhas das “palavras de vida” e “luzes”após cada encenação foram momentos fortes com eles, jà que começo a poder me exprimir bem melhor e começo a entender algumas das palavras deles.
  • Preparação das visitas de todas as casas de uma pequenina comunidade o que não foi feito desde anos aqui, desde a chegada dos primeiros missionários franceses e italianos.
  • Sexta-feira:
  • Missa de envio para a missão com meditação do Evangelho do envio em missão dos 72 e bênção da água para a bênção das casas.
  • Caminho para a comunidade e constituição das equipas com jovens missionários e jovens da comunidade visitada para guiar cada
  • Visita de todos os lugarejos e das casas de todas as pessoas que o pediram.
  • À fim da tarde, dormimos nas casas da comunidade na primeira missão, voltamos para Befeta na segunda missão.
  • Sábado:
  • Missa na comunidade de base com encenação de Atos dos Apóstolos 1 até 5
  • Almoço na comunidade
  • Regresso para o centro para fazer uma releitura (ver a seguir)
  • Preparação da missa das 8 comunidades de base reunidas no Centro para o domingo.
  • Domingo:
  • Missa no centro com as 8 comunidades de base
  • Substituímos as leituras a não ser o Evangelho com a encenação dos Atos dos Apóstolos 6 até 9. (Se pode ver as vídeos no youtube: http://www.youtube.com/watch?v=PCi7y9faVlc&feature=plcp e outras no meu site : bruno-cadart.com)

3. O conteúdo das visitas

O objetivo era de ajudar os católicos em participarem da vida da comunidade e de dar um sinal de amor às pessoas que não eram católicas sem fazer proselitismo como o fazem uns grupos religiosos. Para limitar o risco que esta iniciativa seja mal entendida, os católicos da comunidade avisaram com antecedência os crentes do objetivo da iniciativa. Aqui, a maiorias dos crentes são membros de Igreja tradicionais e não das seitas evangélicas mesmo se estas estão se desinvolvindo com pressa. Por isso, o diálogo eocumênico está bom.

Uma representação de papéis permitiu aos jovens de se prepararem para as visitas das famílias, como dialogar com elas fazendo atenção à religião delas e ao desejo delas. As equipas andavam cantando cânticos, tocavam às portas, apresentando-se como católicos, pedindo a gente se estavam prontos para os receberem (caso mais frequente), dialogando com a gente (sua família? Sua religião e participação efetiva).

Quando não eram crentes: nós estamos felizes em cumprimentar vocês, acreditamos num Deus que ama a todos os homens. Será que vocês quiserem nós rezarmos por vocês, abençoar o seu lar? Neste caso, rezávamos, lendo a cada vez o Evangelho de Zaqueu.

Quando a gente era crente: nós estamos felizes em encontrar vocês que são irmãos conosco na fé em Cristo, quereis nós rezarmos juntos? Neste caso: partilha de palavras de vida no Evangelho de Zaqueu, oração do Pai Nosso, mas não do Ave Maria, bênção do lar daqueles que o desejavam.

Quando eram católicos: idem com partilha sobre a participação efetiva deles à vida da comunidade e aos sacramentos e os convidávamos para a missa do amanhã da manhã na comunidade.

Nos lugarejos, chegávamos cantando, chamando as pessoas para se juntar no espaço entre as casas. Nos apresentávamos e convidávamos as pessoas para rezar na praça. Encenávamos às vezes o Evangelho de Zaqueu e chamávamos as crianças que quiserem para entrar na encenação, fazer a multidão que seguia Jesus. Depois, dialogávamos com a gente: “Como é que Jesus possa entrar nas nossas casas, nas nossas vidas, hoje?”

A seguir, seguíamos as pessoas que nos pediam a bênção das casas delas.

4. Realização:

4.1 Missão em Ankarana, comunidade de base que pertence ao município rural de Ikalalao da quarta-feira 15 para o domingo 19 de agosto de 2012

No 15, a missão inciou bem diferente do que esperava. Foram 40 sessionistas que prometeram vir e só 5 meninas e um formador que chegaram. Se não houvesse jovem nenhum, eu era decidido em ir no entanto e fiquei feliz em ver que não fui destabilizado com este imprevisto, pois tenho a convicção a cada dia mais forte que é Cristo que nos conduze, por isso não me importa o número de pessoas que ele nos envia.

Não posso esquecer-me também que Ele iniciou toda a sua obra “no presépio” como o destaca o Pe Chevrier, num jeito pequenino, humilde, e que, quando se vê as multidões, ele toma muito tempo em formar alguns como discípulos e apóstolos, discípulos e missionários diz o documento d’Aparecida. Fiquei muito feliz em viver esta experiência formadora com o Sr Christian assim com 5 meninas entre os 16 e 18 anos: Florentine e Vola da comunidade de Ankarimbahoaka, Pascaline de Tsito, Janina d’Ambohibe, Marie-Roseline d’Anjoma. Tinham feito 5 horas a pé para là chegar.

Na quinta-feira, preparávamos a encenação dos Atos dos Apóstolos 1 para 5 e, na sexta-feira, subimos a pé na montanha para a comunidade de Ankarana (o que significa “a subida”). A vereda péssima que começava descendo num ravim era com muita lama e caiu bem forte mas sem consequência. Uma hora depois, quando chegamos na comunidade, havia 15 jovens que esperavam para viver a missão conosco. Visitamos todos os lugarejos e muitas casas. O acolhimento foi muito bom em quase todos os lugares. À noite, dormimos na casa da gente e, no sábado da manhã, celebramos a missa com a encenação dos Atos e continuamos com a programação jà exposta por cima.

4.2 Missão na comunidade de Ambodimanodila que depende do município rural de Befeta da quarta-feira 22 ao domingo 26 de agosto

Na quarta-feira 22 de agosto, cheguei em Befeta com as 5 meninas que jà fizeram a primeira missão assim como parte dos jovens da comunidade de Ankarana que decidiram vir porque gostaram muito da primeira missão. Quando chegamos, havia todos os catequistas e muitos dos professores das comunidades todas que dependem do centro de Befeta. Havia muitos outros jovens e, no total, foram 79 pessoas, quase 72… que participaram da missão.

Na quinta-feira, 6 equipas prepararam e encenaram os Atos dos Apóstolos 1 para 9 e foi ocasião duma partilha forte entre nós. Na sexta-feira, formamos 14 equipas com jovens da comunidade que acrescentaram o grupo e visitamos os 14 lugarejos assim como outros no caminho do regresso para dormir em Befeta.

No sábado voltamos para a comunidade e celebramos a missa com a encenação dos Atos dos Apóstolos 1 para 5. Umas semanas antes, enquanto jà tínhamos decidido fazer a missão nesta comunidade, achei por sorte uma velha folha de cânticos que era uma folha da ordenação de Pe Victor natural de Ambodimanodila no 6 de agosto de 1992 em Befeta. Por isso, convidei-lo para dar graças a Deus pelos 20 anos de padre conosco e ele presidiu a missa do sábado e aquela do domingo.

Quando o povo viu a morte de Ananía porque fingiu de partilhar o tudo dos seus bens e que os jovens encenaram o sepulto dele com os cânticos tradicionais daqui em Madagascar, isso tocou o coração da gente. Deois perguntei o que matou Anania e Safira: a palavra de São Pedro? Mas como um apôstolo dum Deus de amor pude matar? E foi ocasião de uma reflexão sobre a mentira que mata nas nossas vidas. É uma problema maior aqui neste país onde não se sabe em quem se pode confiar a gente, quando os políticos roubam tudo, que os policiais alugam as armas deles aos ladrões ou matam os juízes, e onde a mentira e os desvios atingem também a Igreja. É pouco de dizer que as pessoas presentes nesta igrejinha escutavam com atenção.

Havia alegria profunda no coração dos jovens, dos catequistas como do povo. Acho que Pe Victor estava comovido e também surpreendido com o jeito da missão e da missa. Após a comunhão, ele tomou a palavra e evocou divisões na sua própria família por causa de herança. Depois da missa, chegou um tio dele que comprimentou-lo pela primeira vez desde anos.

A tarde, como em Ikalalao, fizemos a releitura (ver a seguir) e preparamos a missa do domingo (encenação dos Atos, danças tradicionais pelo Gloria, pelas procissões da Palavra, das ofertas, pelo agradecimento após a comunhão).

4.3 Releitura nos sábados das duas missões

Começamos lendo o Evangelho do regresso dos 72 da missão quando Jesus reúne os discípulos e, ouvindo a narração deles, exulta de alegria no Espírito Santo (Lucas 10, 17-24). Os jovens refletiram em 6 equipas e integramos o resume da reflexão das equipas no oficia das Vêsperas. Antes de cada salmo, 2 equipas partilhavam as respostas delas às perguntas seguintes:

–     Onde é que percebemos sinais da ação do Espírito Santo durante as visitas e a missão?

–     Onde é que, olhando para a vida da gente ou na meditação dos Atos dos Apóstolos, percebemos algo da chamada de Cristo?

–     A partir daí o que me decido a fazer?

O “Mpiadidy”, nome que se dá ao catequista responsável da coordenação de todas as comunidades que dependem dum centro, aqui o centro de Befeta assim como eu, partilhamos as nossas respostas antes do Cântico de Maria. Tanto em Ikalalao como em Befeta, o que se exprimiu foi isso:

Sinais da obra do Espírito Santo:
  • A alegria em nossos corações e nos corações das pessoas visitadas;
  • Não tínhamos vergonha nem medo para falar à gente, encenar os Atos dos Apóstolos;
  • O acolhimento da gente e as doações espontaneadas que muitos nos fizeram inclusive famílias crentes.
Chamadas:
  • Vendo lugarejos onde quase ninguém sabia ler nem escrever, onde havia pessoas dizendo que não rezavam nem iam para a igreja, pensamos que era preciso agir e chamar pessoas da comunidade para visitar estes lugarejos outras vezes;
  • Vendo a alegria da gente em se encontrar e rezar nos lugarejos, falei dos Círculos Bíblicos do Brasil sabendo que não há nada como isso aqui.
  • Pelo momento, as seitas não estão tão presentes como no Brasil, mas alertei sobre a urgência em ajudar a gente para ler regularmente a Bíblia e rezar juntos, jà porque aqui é o caminho do cristão e para ser capaz não se deixar enganar. Também, ajudaria muito as pessoas em progredir na leitura e na escritura, porque, aqui, muitas das famílias nem tem um livro na casa.
  • Questionei sobre a possibilidade de se ajudar em relação como a aprentissagem da leitura e para sair da doença do álcool que atinge muita gente.
Decisões que partilharam os jovens:
  • Comprar o Novo Testamento (a Bíblia fica bem cara) para os que ainda não o fizeram e iniciar ou continuar o caderno de palavras de vida;
  • Lançar equipas do F.E.T. (Movimento Eocarístico dos Jovens e das Crianças) e fazer com elas missões nos lugarejos aproximando-se das crianças que não são em equipa.
  • Chamar a gente em rezar nos lugarejos;
  • Ir mais adiante na vida religiosa para os que jà iniciaram um caminho vocacional.

A coragem de São Pedro e São João para anunciar o Evangelho sem ter medo da prisão e da perseguição e a determinação deles em obedecer a Deus antes dos homens, a cura do paralítico enquanto não tinham nem ouro nem prato, a mentira que mata, o martírio de Estêvão rezando identificando-se com Cristo, o caminho de Filipo aproximando-se do Etiope e caminhando com ele, a conversão de Saolo, tudo isso tocou o coração dos jovens e do povo. Vendi todas as Bíblias e os Novos Testamentos que tinha comigo.

Todos pedem outras missões. Os catequistas que têm um jeito bem diferente do que conhecia na França e no Brasil, muitas vezes muito autoritário e como uma lição a apreender, ficaram muito tocados pela experiência.

4.4 Acompanhamento de “vocacionados” para a vida religiosa e o seminário

Em Ikalalao, no meio das 5 meninas, havia Florentine, 17 anos. Fiquei tocado com o dinamismo dela nas sessões de 6 dias a cada mês do Centro de Promoção Rural. Passei visitar a família dela quando o pai dela acabava de morrer e era ela que dirigia o acolhimento da gente e a oração enquanto era a mais jovem da família. No retiro da primeira comunhão em Isaka, no mês de junho, fiquei maravilhado com o jeito dela para animar uma equipa de crianças, as ajudar em encenar o Evangelho e lhe queria dizer os dons que tinha visto no coração dela e lhe perguntar se jà tinha pensado na vida religiosa, mas ela não me deixou tempo para fazê-lo; pois ela entrou na sala e disse-me:

–     “Queriar ser freira, mas a minha mãe disse-me que estáva pobre demais para poder porque, deste fato, não tinha estudado além do ensino primário e muitas congregações não acolhem aqueles que não têm o vestibular ou, pelo menos, o exame após o colégio”.

Disse-me que fazia o “Caderno de Palavras de vida” quase todos os dias e fiquei maravilhado em ver as luzes, as meditações, que notava além das palavras de vida. Daí eu apresentei-la às irmãs do Prado e ela vai fazer uma experiência nas semanas que vêm.

Havia também Sr Christian, 32 anos, formador no Centro de Promoção Rural d’Ikalalao. Jà ha anos, ele quis entrar numa congregação religiosa mas não conseguiu por causa do seu nível escolar tal como o de Florentine. Jà lhe havia apresentado a possibilidade de ser “leigo consagrado do Prado”, viver a mesma vida como a da gente, no meio da gente, mas escolhendo o celibate consagrado à escola do Pe Chevrier. Era muito diferente do caminho que percorrem os que entram nas congregações religiosas, que chegam de família muito pobre, sem nada e que, de repente, têm grande casa, comida fartura, andando em 4×4, tendo acesso ao sistema de saúde o que não tinham antes. Aqui, na vida de leigo consagrado, nada a receber: só escolher de viver no meio dos mais pobres, nas mesmas condições como eles, e se por ao serviço deles na vida de dia a dia, ganhar o seu pão pelo seu trabalho, testemunhar do Evangelho na vida do dia a dia. Sr Christian encantou-se quando leio os Escritos Espirituais do Pe Chevrier que eu acabava de recolher em malagasy (estou preparando a edição) e se diz feliz neste caminho. É um novo chamado para a família pradosiana em Madagascar de ver como acompanha-lo.

Esta missão com 5 meninas e o Sr Christian foi um momento especial para acompanhar Florentine e Sr Christian.

Em Befeta, no meio das 79 pessoas, havia 6 “seminaristas”, jovens que caminham no seminário menor da diocese e que têm entre 15 e 20 anos, que estudam para chegar ao Vestibular, entrar na propedeûtica, continuer com o seminário de filosofia, depois fazer 2 anos de “regência”, serviço para a diocese, e concluir com o seminário de teologia em Fianarantsoa. São 130 seminaristas là para as 9 dioceses da terça parte sul de Madagascar. Havia também duas “aspirantes”, vocacionadas religiosas: Florentine e Angela. Todos esses vocacionados eram originários da paróquia.

Quando os 6 pequenos seminaristas chegaram em Befeta, a primeira coisa que fizeram foi de se instalar nos quartos da casa paroquial enquanto os outros iam dormir no chão de terra numa sala de aulas e de preparar a mesa na casa paroquial para eles porque pensavam que iam comer refeição diferente dos outros e separada dos outros com o padre com é de custome aqui. Tive de lhes pedir de dormir com a gente e avisa-lhes que iríamos comer com a gente e o mesmo prato de arroz mal cozido com alguns feijões mais nada.

No momento da releitura final, várias equipas destacaram como sinal do Espírito Santo o facto que o padre, o catequista principal e os seminaristas, viverem com e como a gente sem distinção sem houver pessoas acima das outras. No sábado à noite, propus um momento de releitura espicífica com os vocacionados e disseram a alegria deles de ter vivido a missão deste jeito. Perguntaram muito sobre o Prado.

Era impóssivel para mim não me lembrar do trabalho do Pe Chevrier e da sua preocupação para formar seminaristas no meio dos pobres, da sua tristeza vendo que, quando entravam no seminário, se tornavam burgueses e se afastavam dos pobres e do Evangelho.

Esta tradição do Padre que não come nem como nem com a gente é muito difícil para mim. É um ponto de confronto como o meu pároco que não julgo que não tem a mesma história que mim e que quer escarpar à miséria que sofreu muito quando era jovem. Não é fácil nesta história desejar buscar a pobreza evangélica.

Na missa do domingo em Befeta, além dos 8 vocacionados se juntaram 3 seminaristas de teologia, mais o Pe Victor e a Irmà Janina, todos originários da paróquia de Befeta. Impressionante.

4.5 Experiência da Providência

Convidei as 5 meninas que participaram da primeira missão para vir à segunda sem trazer arroz nem feijão porque sabia que não podiam fornecer para as duas missões e queria elas participarem de novo e ajudarem os outros. Foram 6 outros que chegaram também com as mãos vazias. Comprei para eles e houve varias pessoas inclusive crentes que ofereceram arroz, feijão, dinheiro, quando visitamos as casas delas sem nós pedirmos nada. Quando fizemos a contabilidade, não havia mais nada que faltava e compensou o que tinha dado no início. É uma coisa que jà constatei varias vezes e que ainda me toca.

5. Perspetivas após as duas missões

Jesus exultou sobre à ação do Espírito Santo vendo os apóstolos voltar da missão. Havia alguma coisa como este no meu coração como no do Mpiadidy (catequista principal). Havia também uma alegria profundo no coração de todos nós.

Eu sei que só iniciamos este trabalho que não existia mais desde os primeiros missionários há uns cem anos quando o Evangelho là chegou pela primeira vez (140 anos em Fianarantsoa), mas jà espero que provocará outras iniciativas dos catequistas, das equipas do F.E.T. (Movimento Eocarístico dos Jovens e das Crianças) e espero que, no natal, Irão visitar todos os lugarejos em todas as comunidades, encenar o Evangelho do nascimento de Jesus, fazendo ressoar esta chamada tão forte: “Será que haverá lugar para Jesus nascer no meio de vocês?” e convidendo para a oração em todas as comunidades de base no dia 24 e para a missa nos 4 centros da paróquia no dia do Natal. No ano passado, jà tinham encenado no dia 24 em todas as comunidades de base o Evangelho do nascimento e da infância de Jesus (Lucas 1 e 2 e parte de Mateus 1). A novidade, se acontecer, seria de visitar todos os lugarejos no 23.

Sonho também o meu colega e os catequistas ouvirem a proposta de fundar “Círculos Bíblicos” em todos os lugarejos.

6. Outras noticias da minha missão nos últimos meses e nos meses para vir

6.1 Serviço do Prado

No mês de julho, lançamos a primeira “semana de espiritualidade pradosiana” para padres querem conhecer ou aprofundar a espiritualidade do Pe Chevrier. Durante 7 dias completos, ajudamos 15 padres vindos de toda a Ilha, dois dias de viagem difícil para alguns, para entrarem na leitura meditativa do “Verdadeiro Discípulo”.

A seguir, foi a Assembléia dos Padres do Prado de Madagascar durante 4 dias. Fomos 25 presentes. Houve alguns que não puderam ficar após a semana de espiritualidade, outros que chegaram para a assembleia e, no total, foram 33 padres que participaram a tudo ou parte desses dois encontros. Pe Jose Aristeu Vieira da diocese de Diamantina (MG, Brasil), representava o Responsável Geral do Prado e fiquei bem feliz em poder encontrar-me com o meu querido irmão e poder falar brasileiro também. Animamos essas duas sessões a seguir em francês.

Convidamos cada um em redigir uma “narração” a partir do tema da Assembléia do Prado International de julho de 2013 em Lyon: “Anunciar aos pobres a riqueza de Jesus Cristo”. A introdução ao tema pelo Pe Aristeu foi uma maravilha. As narrações que surgiram foram impressionnantes. Alguns contam a reação da gente quando se encontram pela primeira vez com cristão que visita a aldeia dela, porque há parte de Madagascar que ainda não se encontraram na presença de cristãos. Lendo as narrações, me ajuda também a conhecer do interior uma cultura e realidades bem distantes do que conhecia até agora e com práticas as vezes bem distantes da luz do Evangelho. Assim, numa narração, se fala de um aldeia que queria matar uma criança porque se tornou impuro na fé da gente aproximando-se de um cão. É pena vocês não entenderem o francês porque poderiam ler esses textos no meu site que abriga o site do Prado de Madagascar.

Depois, animei uma sessão de formação para as Irmãs do Prado e, pela primeira vez, tive de animar uma sessão em malagasy. Graças a Deus, consegui. Era necessário uma irmã traduzir para mim quando as irmãs se exprimiam porque não consigo ainda a entender bem tudo o que diz a gente.

6.2 Doença do álcool

Vendo que não bebia álcool nenhum e como explicava que era por solidariedade com amigos doentes do álcool, dois padres pediram ajuda e fundamos a “Equipa dos padres da diocese de Fianarantsoa zero álcool” que se reúne a cada mês no momento do encontro mensal dos padres da diocese desde novembro de 2010.

A seguir, me foi pedido de dar uma conferência aos 130 seminaristas do seminário maior de Fianarantsoa e preparei uma data show Power Point em francês, porque os seminaristas entendem mais ou menos.

Aqui, é uma problema maior e, só no ano escolar passado, um padre que bebeu matou 2 e feriu 9, um motorista da diocese matou 2 e feriu 20. Na minha paróquia num município só entre os 4, houve 7 pessoas mortes no mês de abril de 2011 por overdose, nos quais uma mãe com 35 anos de idade que tinha 7 filhos entre 16 anos e menos de um ano.

Com a ajuda de uma professora de malagasy conclui a tradução desta data show e devo apresentá-lo à escola dos catequistas da diocese e aos alunos do seminário menor. No fim do retiro diocesano, como é de customo, os padres beberam e vários ficaram bêbados, inclusive membros da equipa zero álcool. É um combate muito difícil neste contexto. Um dos que foram bêbados pediu na segunda-feira para se juntar à nossa equipa. Enviei o data show pelo internet a todos os bispos e responsáveis das congregações religiosas masculinas de Madagascar.

Eu conclui o data show evocando a fundação da Pastoral da Sobriedade no Brasil e questionando sobre o que fazer, sugerindo que seria necessário implantar isso em Madagascar. Não me esqueço que fica muito a fazer para desenvolver e apoiar esta pastoral no Brasil também. Fico feliz em poder assim caminhar e utilizar também a competência medical.

6.3 Situação política

A situação está péssima. O governo chegou após um golpe de estado no ano de 2009 para substituir a um presidente que matou várias pessoas e que quer voltar agora. A corupcão está em todos os lugares num nível desconhecido no Brasil. A violência que jà era tradicional com muitos roubos de gado se torna pior hoje. O governo não controla mais o sul do país e são várias tropas com 100 até 300 pessoas armadas com Kalachnikof que roubam tudo no sul. Na semana passada, cidadãos mataram 100 desses bandidos que têm ligações evidentes com políticos mafiosos.

Durante a nossa assembleia do Prado, o aeroporto da capital fechou durante 24 horas porque foi o lugar de uma tentative de Golpe de Estado curiosa, a terceira desde a minha chegada aqui há 2 anos e meia, que acontecia como as outras duas vezes na véspera de um encontro entre o “Presidente da Alta Autoridade de Transição” e o Presidente precedente com a pressão da União Africana, mas parece um teatro organizado pelo poder atual, para parecer vítima do outro partido. Na “encenação” desta vez houve 3 pessoas matadas.

A pobreza está piorando a cada dia. As estradas se destroem sem ser arrumadas. Assim a estrada principal entre a capital e Fianarantsoa, terceira cidade do país, jà muito estreita e sinuosa, tem grandes partes com buracos enormes. Na nossa paróquia, havia uma estrada de chão que dava para ir de carro 4 x 4 do centro de Isaka para o de Befeta, 16 quilômetros, numa hora… atravessando ponto onde a gente roubou vigas de madeira. Agora a estrada não passa mais de carro, só de bicicleta e com dificuldade para atravessar a ponte. É preciso fazer 53 quilômetros de estradas deste jeito. Quando vai chegar o período da chuva, serà preciso fazer 110 quilômetros… Por isso, viajo muito a pé e de bicicleta.

7. Epilogo

No entanto, paradoxalmente, não sinto o medo, nem sofro no meu corpo ou na minha alma. Sofro com certeza em ver a miséria das pessoas e de não poder fazer nada ou quase nada, mas fico muito feliz em poder conviver com elas, ser acolhido por elas, amado por elas. Pessoas da paróquia estavam preocupadas em saber se íamos ficar com Pe Wilson para o ano que vem e manifestaram alegria quando ouviram o bispo pela rádio (para os que são em lugar que capta a radio) anunciar a repartição dos padres da diocese para o ano que vem.

Descobro muitas coisas do Evangelho, do porque da escolha de Cristo de vir no mundo na pobreza, sem nada.

Não posso esquecer-me de todos vocês que conheci no Brasil e vejo que muito do que recebi no meio de vocês me ajuda aqui. Estou rezando para vocês, consagrando uma dezena do terço quotidiano às pessoas do Brasil, evocando todos vocês por categorias antes de cada Ave Maria. Sei que posso contar também com a sua oração.

Estou particularmente unido com todos vocês das paróquias de Guaçui e Dores que estão vivendo as novenas das festas de Nossa Senhora das Dores e de São Miguel Arcanjo. Com certeza, não me esqueço dos padres e das outras pessoas da diocese de Cachoeiro da Itapemirim assim como todos os padres do Prado do Brasil que tive a sorte de conhecer.

Pe Bruno Cadart

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